Como a neuroarquitetura pode influenciar a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios

A interseção entre arquitetura e neurociência, conhecida como neuroarquitetura, emerge como um campo inovador, trazendo à tona a influência significativa do design, seja de espaços urbanos ou de edifícios, na percepção humana, incluindo o aspecto de segurança. Esta área de estudo ganha relevância em um contexto em que a arquitetura urbana não é apenas uma questão estética ou funcional, mas também um elemento crucial na criação de ambientes que promovam bem-estar e segurança.

Como a neuroarquitetura pode influenciar a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios - Imagem 2 de 9Como a neuroarquitetura pode influenciar a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios - Imagem 3 de 9Como a neuroarquitetura pode influenciar a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios - Imagem 4 de 9Como a neuroarquitetura pode influenciar a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios - Imagem 5 de 9Como a neuroarquitetura pode influenciar a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios - Mais Imagens+ 4

Amplos conceitos da neuroarquitetura são abordados por John Zeisel em seu livro Inquiry by Design (2006), que explora como os espaços que habitamos podem afetar nosso comportamento, emoções e até a saúde mental. Zeisel, um sociólogo e pesquisador em design ambiental, argumenta que a compreensão das interações entre o ambiente construído e a neurologia humana é fundamental para projetar espaços que não apenas atendam às necessidades físicas, mas também contribuam positivamente para o bem-estar emocional e psicológico.

Esta abordagem projetual influencia a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios. Em meio a desafios urbanos contemporâneos, como o aumento da densidade populacional e questões de segurança pública, o papel da neuroarquitetura torna-se cada vez mais pertinente. Ao compreender como elementos arquitetônicos podem afetar a percepção e o comportamento humano, arquitetos e planejadores urbanos podem criar ambientes que não apenas sejam seguros, mas que também sejam percebidos como tais pelos seus usuários.

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Foto: Thomas Habr | Unsplash

Nesta discussão, podem ser exploradas bases teóricas sobre o tema, seu impacto na percepção de segurança e exemplos de aplicação. Esta perspectiva fornece elementos valiosos para profissionais e entusiastas da arquitetura, destacando a importância de uma abordagem mais holística e baseada em evidências no design de nossos ambientes urbanos e construídos.

O foco principal da neuroarquitetura é investigar como o ambiente construído pode influenciar diretamente o cérebro humano, afetando nosso comportamento, emoções e, de maneira crucial, a percepção de segurança. Oferece, portanto, entendimentos valiosos para o design de espaços que promovam bem-estar e segurança.

Este campo foi grandemente influenciado por figuras como o Dr. Jonas Salk, mais conhecido por seu papel no desenvolvimento da vacina contra a poliomielite, mas também um defensor da ideia de que o design arquitetônico influencia a saúde e a pesquisa científica. Sua colaboração com o neurocientista Fred H. Gage, destacada em The Neuroscience of Architecture (2003), aprofundou a compreensão de que os espaços em que vivemos e trabalhamos são mais do que meros cenários; eles são participantes ativos em nossa experiência diária, moldando nossas emoções e comportamentos.

Os princípios da neuroarquitetura envolvem a compreensão de que o design pode afetar diretamente áreas cerebrais ligadas às emoções e memórias, como o sistema límbico. O uso criterioso de luz natural, acústica, texturas, cores, formas, dentre outros, possibilita criar ambientes que podem vir a reduzir o estresse e, pontualmente, aumentar a sensação de segurança. Esse entendimento é especialmente relevante em ambientes urbanos, onde os desafios relacionados à densidade populacional e segurança são mais evidentes.

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Foto © Amey Kandalgaonkar

Através desta nova visão projetual é possível moldar espaços urbanos e edifícios que vão além de satisfazer as necessidades físicas, contribuindo significativamente para o bem-estar mental e emocional dos indivíduos. Este enfoque holístico integra considerações psicológicas e neurológicas no processo de design, resultando em ambientes que não apenas são esteticamente agradáveis, mas também psicologicamente fortalecedores e seguros.

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Foto © Sébastien Andréi

Portanto, a neuroarquitetura emerge não apenas como uma área de estudo acadêmico, mas como uma prática essencial com implicações profundas na maneira como projetamos e interagimos com nossos ambientes. À medida que este campo continua a se desenvolver, espera-se que ele ofereça orientações cada vez mais refinadas para a criação de espaços urbanos que sejam não somente belos, mas também psicologicamente benéficos e seguros.

Assim, na discussão sobre a neuroarquitetura, é fundamental destacar a importância da percepção de segurança em espaços urbanos e construídos. A sensação de segurança é um aspecto crítico que influencia não apenas a qualidade de vida, mas também o bem-estar psicológico e social dos indivíduos. Esta proposta explora a relevância da segurança percebida e o impacto que ela tem sobre os habitantes de um espaço.

Um autor influente nesse contexto é o psicólogo ambiental Roger Ulrich, conhecido por suas pesquisas pioneiras sobre os efeitos dos ambientes no bem-estar emocional e físico das pessoas. Em seu trabalho View Through a Window May Influence Recovery from Surgery (1984), Ulrich demonstrou como elementos visuais do ambiente podem afetar significativamente a recuperação e a saúde mental dos usuários. Sua pesquisa sublinha a ideia de que a percepção do ambiente, incluindo a sensação de segurança, tem efeitos concretos sobre a saúde e o comportamento humano.

Ulrich argumenta que a percepção de segurança em espaços urbanos e construídos vai além da simples ausência de risco. Trata-se de uma experiência subjetiva influenciada por vários fatores, incluindo design, iluminação, visibilidade e até mesmo a presença de elementos naturais. Esses elementos, quando adequadamente integrados na arquitetura, podem criar um sentimento de proteção e conforto, reduzindo o estresse e promovendo a saúde mental.

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Foto © Bruno Helbling

A neuroarquitetura entra como uma ferramenta essencial na criação de espaços que não apenas são seguros em termos físicos, mas que também são percebidos dessa forma. Este campo enfatiza a necessidade de considerar a resposta emocional e psicológica dos usuários ao projetar espaços urbanos e edificações. Ao fazer isso, os arquitetos e planejadores urbanos podem contribuir significativamente para o bem-estar dos indivíduos, melhorando não apenas a sua qualidade de vida, mas também a sua interação com o ambiente.

Portanto, a percepção de segurança, embasada pela neuroarquitetura, emerge como um componente crucial no projeto de espaços urbanos. Ela desempenha um papel fundamental na construção de ambientes que não apenas cumpram suas funções básicas, mas que também promovam a saúde mental e física, refletindo uma abordagem mais humanizada e empática na arquitetura. À medida que exploramos esse campo, torna-se evidente que ele oferece um caminho promissor para a criação de espaços urbanos que sejam não apenas funcionais, mas também seguros e acolhedores.

A partir do momento que compreendemos a importância da percepção de segurança, percebemos como uma nova visão sobre os aspectos projetuais desempenha um papel crucial na influência dessa percepção. Ao considerar-se a resposta emocional e cognitiva dos indivíduos ao ambiente construído, é possível oferecer estratégias valiosas para melhorar a sensação de segurança em espaços urbanos e edifícios.

Neste contexto, é essencial referenciar Esther M. Sternberg, uma renomada imunologista e pesquisadora na interseção da saúde e do ambiente construído. Em seu trabalho Healing Spaces: The Science of Place and Well-Being (2009), Sternberg explora como o ambiente físico pode afetar o humor, o sistema imunológico e, em última análise, o bem-estar. Seu estudo enfatiza a importância de elementos como iluminação, disposição do layout e linhas de visão na criação de espaços que não apenas promovem a saúde, mas também a sensação de segurança.

Os elementos de design neuroarquitetônico, como Sternberg sugere, têm um impacto profundo na maneira como percebemos e interagimos com nosso ambiente. Por exemplo, a iluminação adequada não apenas melhora a visibilidade, mas também pode influenciar o humor e a sensação de segurança. Da mesma forma, o layout de um espaço, sua navegabilidade, pode determinar quão seguros nós sentimos nele, com a disposição dos elementos e a facilidade de navegação desempenhando papéis cruciais.

Além disso, as linhas de visão - a capacidade de ver e ser visto - são fundamentais na percepção de segurança. Espaços que permitem uma visibilidade clara e desobstruída podem reduzir a sensação de vulnerabilidade. Exemplos práticos disso podem ser encontrados em projetos urbanos e de edifícios onde condicionantes de neuroarquitetura foram aplicadas para melhorar a segurança percebida. Nestes casos, o design não é apenas esteticamente agradável, mas também funcional, promovendo uma sensação de abertura e transparência.

A análise dos resultados e retorno dos usuários nesses espaços revela uma melhoria significativa na percepção de segurança. Isso não só valida a importância deste modelo projetual, mas também ilustra como pequenas mudanças na arquitetura podem ter grandes impactos na experiência humana.

Estas práticas podem oferecer uma abordagem inovadora e baseada em evidências para melhorar a percepção de segurança em espaços urbanos e construídos. Ao alinhar cuidadosamente os aspectos do design com as necessidades emocionais e cognitivas dos usuários, é possível criar ambientes que não apenas atendam às necessidades físicas. Este campo emergente promete revolucionar o modo como concebemos e interagimos com nossos ambientes construídos, fazendo da percepção de segurança um componente integral do design.

Um exemplo prático, e que fundamenta inúmeros casos, é fornecido por Christopher Alexander, um arquiteto e teórico, em seu livro A Pattern Language (1977). Alexander, cujo trabalho tem sido influente também na arquitetura e no design de softwares, propõe um conjunto de padrões de design que visam melhorar a qualidade de vida dos usuários de um espaço. Embora seu trabalho não seja rotulado explicitamente como neuroarquitetura, ele aborda muitos de seus conceitos fundamentais, especialmente no que diz respeito à criação de espaços que promovam a sensação de segurança e bem-estar.

Nos estudos de caso apresentados por Alexander, fica evidente que a aplicação de padrões específicos de design pode transformar significativamente a experiência dos espaços urbanos. Por exemplo, a inclusão de áreas verdes, a disposição estratégica de caminhos e pontos de encontro, e a atenção à escala humana nos designs urbanos podem aumentar a percepção de segurança e a interação social. Estas intervenções criam um ambiente onde as pessoas se sentem mais seguras e conectadas, reduzindo o anonimato e o isolamento frequentemente associados às áreas urbanas.

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Foto © Srirath Somsawat

Além disso, os resultados e testemunhos dos usuários desses espaços reforçam a importância de considerar a neuroarquitetura no planejamento urbano. Os residentes e usuários desses ambientes frequentemente relatam um aumento na sensação de segurança e uma maior satisfação com o seu ambiente, demonstrando o impacto positivo que um design cuidadoso pode ter. Atualmente grandes metrópoles vêm se estruturando a partir destes conceitos, hoje já intitulados como neurourbanismo, o qual amplamente se utiliza de aspectos de sintaxe espacial.

A abordagem de Christopher Alexander sobre o uso de padrões de design para melhorar a qualidade de vida encontra reflexo em projetos de revitalização urbana como o High Line e a Little Island em Nova Iorque. Esses projetos transformaram espaços urbanos anteriormente subutilizados em áreas de lazer e interação social, alinhando-se aos princípios de neuroarquitetura. O High Line, uma linha férrea elevada desativada que foi convertida em um parque linear urbano, promove uma nova forma de experienciar a cidade com áreas verdes, arte e design inovador. Da mesma forma, a Little Island, construída sobre os antigos alicerces de um píer em desuso, oferece um refúgio único sobre o rio Hudson, combinando arquitetura orgânica com a natureza. Ambos os projetos exemplificam como o design consciente pode criar espaços que não só melhoram esteticamente o ambiente urbano, mas também contribuem significativamente para o bem-estar e a segurança dos usuários, ecoando as proposições sobre a relação entre espaço e experiência humana.

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High Line. Foto © Iwan Baan
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Little Island. Foto © China News Service, Getty Images

No entanto, os desafios na implementação desses conceitos em projetos urbanos e arquitetônicos existentes também são evidentes. Muitas vezes, há restrições orçamentárias, regulatórias e de espaço que limitam a extensão das mudanças que podem ser feitas. Esses desafios destacam a necessidade de inovação e flexibilidade, bem como a importância de políticas e regulamentos que apoiem tais iniciativas.

Na prática, estudos de caso no campo da neuroarquitetura fornecem dados valiosos sobre como o design pode ser usado para melhorar a percepção de segurança em espaços urbanos. Eles demonstram que, embora haja desafios, as oportunidades para criar ambientes urbanos mais seguros e acolhedores são vastas.

Na abordagem sobre a neuroarquitetura e seu papel vital na percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios, é crucial ponderar os temas abordados e visualizar o futuro deste campo inovador. Ao focar na intersecção entre o design espacial e a psicologia humana, a neuroarquitetura emerge como uma ferramenta útil para criar ambientes mais seguros e acolhedores, não apenas globalmente, mas também no contexto brasileiro.

O trabalho do arquiteto e urbanista William Whyte, particularmente em The Social Life of Small Urban Spaces (1980), fornece pistas instigantes. Whyte, conhecido por suas observações detalhadas do comportamento humano em espaços públicos, sublinha a importância de um design urbano que favoreça a interação social e o bem-estar, conceitos que são centrais para a neuroarquitetura. Suas pesquisas enfatizam a necessidade de espaços que vão além do estético e funcional, impactando positivamente as interações humanas e a percepção de segurança.

No Brasil, entidades como o Instituto de Design Biofílico desempenham um papel fundamental ao trazer um olhar aprimorado para o tema da neuroarquitetura e sua aplicabilidade. O instituto foca em integrar princípios do design biofílico — que busca conectar os habitantes dos espaços com a natureza — à arquitetura e ao planejamento urbano. Esta abordagem é particularmente relevante em contextos urbanos densos, onde a conexão com elementos naturais pode melhorar significativamente a qualidade de vida e a sensação de segurança.

Os tópicos aqui discutidos destacam a importância de considerar não apenas as necessidades físicas, mas também as emocionais e psicológicas dos indivíduos ao projetar espaços, sejam urbanos, sejam construídos. A incorporação de elementos como iluminação, navegabilidade e visibilidade pode aprimorar a sensação de segurança e bem-estar.

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Foto © Maxime Brouillet

Olhando para o futuro, o tema, especialmente em países como o Brasil, enfrenta o desafio de adaptar-se a um mundo em constante evolução, onde as necessidades urbanas e sociais estão sempre mudando. A integração de novas tecnologias, abordagens sustentáveis e uma compreensão aprofundada da psicologia humana será fundamental para desenvolver ambientes urbanos que sejam seguros e que promovam saúde mental e bem-estar.

Este é um campo de estudo e prática em expansão, com enorme potencial para transformar nossos ambientes urbanos e edifícios. Conforme avançamos, é vital que continuemos a explorar e aplicar seus princípios, com o objetivo de criar ambientes que não apenas abriguem, mas também nutram e protejam seus usuários. O futuro da arquitetura urbana, influenciado pela neuroarquitetura e enriquecido por iniciativas pontuais, promete ser mais seguro, empático e alinhado com as necessidades humanas.

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Sobre este autor
Cita: Lorí Crízel. "Como a neuroarquitetura pode influenciar a percepção de segurança em espaços urbanos e edifícios" 10 Dez 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1010191/como-a-neuroarquitetura-pode-influenciar-a-percepcao-de-seguranca-em-espacos-urbanos-e-edificios> ISSN 0719-8906

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